Lago subterrâneo na Caverna dos Ecos — Foto: Arquivo pessoal/Rodrigo Santos de Sousa
Localizada em Cocalzinho de Goiás, no noroeste do estado, a Caverna dos Ecos é a maior caverna composta pela rocha micaxisto do Brasil e abriga o maior lago subterrâneo da América Latina em cavernas formadas por esse tipo de rocha, segundo dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Com turismo restrito, o local tem dimensões impressionantes e água transparente.
"É o maior lago, se não o único, em cavernas formadas em micaxisto. Vale ressaltar que são poucas cavernas nessa litologia”, afirma José Carlos Ribeiro Reino, geólogo e analista ambiental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas do ICMBio.
A Caverna dos Ecos fica em uma propriedade privada e foi oficialmente apresentada à comunidade espeleológica em 1976, mas já era conhecida pelos moradores locais.
"A caverna tem 1.811 metros de projeção horizontal, que é uma forma de representar a caverna em mapa, segundo o atlas das grandes cavernas do Brasil. Ela figura como a maior em micaxisto do Brasil, mas não é citada se também é a maior do mundo nesse tipo de rocha”, explica o geólogo.
O analista ambiental explica que, devido à visitação intensa durante os anos de 1980 e 1990, a Caverna dos Ecos foi interditada ao turismo em 2001, após denúncias de pesquisadores e grupos de espeleologia. Atualmente, poucos guias podem levar as pessoas até a caverna e a liberação total para visitação só ocorrerá mediante um plano de manejo.
De acordo com o analista ambiental, a Caverna dos Ecos apresenta enormes salões.
"Também constitui um bom desafio à visitação, em razão do elevado desnível em relação à superfície, acima de 40 metros, cujo percurso entre blocos desmoronados e úmidos exigem preparo físico e muito cuidado”, destaca o geólogo.
O turismólogo e guia de turismo Sizernandes Rodrigues Guimarães destaca a beleza do lago, que chega a ter 9 metros de profundidade.
"É impressionante. A transparência da água se destaca. Se não formos atentos, podemos molhar o pé na caminhada por não perceber a presença da água”, relata o guia de turismo.
"Conheço a caverna há mais de 20 anos, e é um dos lugares mais impressionantes que eu já vi, principalmente quando o lago está cheio. É difícil até de acreditar que existe um lago enorme daquele embaixo da terra”, afirma o guia de turismo Rodrigo Santos de Sousa.
Fotos mostram a Caverna dos Ecos, em Goiás — Foto: Arquivo pessoal/Rodrigo Santos de Sousa
Conforme José Carlos, o micaxisto presente na caverna é uma rocha metassedimentar formada em um ambiente marinho litorâneo há mais de 700 milhões de anos e pertencente ao grupo geológico Araxá.
"Ela é rica em areias e argilas, mas as micas surgiram com o processo de metamorfismo dessas rochas. Essas micas são minerais bem planos em forma de foliações, como folhas de papel, e fornecem a característica principal dessas rochas metamórficas que chamamos de xistosidade”, explica o analista ambiental.
Como e quando a caverna se formou
José Carlos acredita que o desenvolvimento da Caverna dos Ecos ocorreu durante o quaternário, de 2,6 milhões de anos atrás até o presente, visto que essas feições "geomorfológicas" (cavernas) são muito mais recentes que a formação das rochas em si.
Entretanto, a ausências de estudos e pesquisas específicas sobre a sua gênese dificultam assegurar essa “idade”, inclusive há possibilidade de todo o processo para a sua formação ser ainda mais antigo.
Caverna dos Ecos tem 1,8 km de projeção — Foto: Arquivo pessoal/Rodrigo Santos de Sousa
Em termos hidrológicos, conforme José Carlos, a caverna representa uma importante maneira de recarga hídrica para o aquífero local, bem como para a descarga nos cursos d’água próximos.
"A importância da caverna se deve pela singularidade e história evolutiva que essa feição possuí, sendo praticamente única no país e talvez no mundo, dada a especificidade das rochas envolvidas, no caso uma combinação de micaxistos e carbonatos”, ressalta o geólogo.
Segundo o analista ambiental, a Caverna dos Ecos também constitui o habitat do Lonchophylla dekeyseri, o Morceguinho-do-Cerrado. A espécie, categorizada como Em Perigo (EN) de extinção pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), é nativa do Brasil e tem registros confirmados em Goiás, Distrito Federal, Tocantins, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.
Percurso dentro da Caverna dos Ecos, em Goiás — Foto: Arquivo pessoal/Rodrigo Santos de Sousa